Mudou-se para São Caetano do Sul em 2001. Seus pais vieram do interior de São Paulo para a capital junto com os 13 irmãos de sua mãe, morando todos na mesma vila. Moacir tem mais três irmãos. Estudou no SENAI, começou a trabalhar aos 14 anos. Graduou-se em Matemática Plena na UNIFAI e Serviço Social na Faculdade Paulista de São Caetano do Sul. Fez Mestrado em Administração na USCS. Em 2000 recebeu um convite para lecionar na USCS e em 2001 prestou concurso. Hoje é gestor da Escola de Tecnologia e Presidente do SIPAT, além de ser professor na Escola da Terceira Idade há 10 anos. Suas duas filhas estudaram na USCS. |
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Pergunta:
Começa falando para a gente o seu nome completo, data e local de nascimento?
Resposta:
Tá, meu nome é Moacir Dias, eu nasci no dia primeiro de abril de 1953, em São Paulo, na Vila Carioca.
Pergunta:
Na Vila Carioca. Você nasceu e cresceu na Vila Carioca?
Resposta:
Nasci, cresci na Vila Carioca, no ano de 2001 eu vim para São Caetano do Sul, morar em São Caetano. Minha vida toda de trabalho, de universidade, sempre foi em São Caetano do Sul, minha segunda faculdade foi em São Caetano e, depois, eu vim conhecer a escola que aí fiz um outro curso, mas sempre lá na Vila Carioca, Ipiranga, e a minha atividade de trabalho. Então, durante o dia, era vizinho aqui à São Caetano, eu tinha que voltar para casa circulando São Caetano e, quando eu fui para a minha segunda faculdade, que era em São Caetano, aí eu gostei muito de São Caetano, tanto é que depois vim morar para cá.
Pergunta:
Então você nasceu em 1953?
Resposta:
Eu nasci em 1953.
Pergunta:
E como que foi essa infância lá na Vila Carioca?
Resposta:
Olha, eu sou filho de trabalhadores rurais, certo? Meu pai e a minha mãe vieram para São Paulo, foram os primeiros a chegarem aqui. A minha mãe, ela tem 13 irmãos e, quando chegaram aqui, ela e o meu pai foram, praticamente, recebendo os irmãos dela que vinham para cá, para São Paulo, aí o meu avô veio, comprou uma vila de casas na Vila Carioca e ali moravam, praticamente, todos os irmãos da minha mãe. Então ali foi legal, porque nós crescemos entre primos, tios, tias, e foi muito legal, porque morar assim, com uma quantidade de tios. Depois, chegou um período que o meu avô, ele achou melhor então, vender tudo aquilo e dividir entre os irmãos, para que cada um, com os filhos, né? [Autocorreção do entrevistado], para que cada um pudesse tocar sua vida. E aí cada um foi, se virou, mas ninguém arredou o pé da Vila Carioca, a maioria continuou morando lá, comprando uma casa, alguma coisa, e ficou por ali. Então, meus pais vieram do interior de São Paulo, não sabiam ler, nem escrever.
Pergunta:
De qual cidade?
Resposta:
De (...), o meu pai veio de [pensativo], São Manoel, acho que São Manoel, e a minha mãe veio de Duartina, cidades do interior de São Paulo. Meu avô italiano, a gente fez toda uma progressão, progressão não, o retorno à vida dele, descobriu qual o navio que ele veio, como que ele chegou aqui, é uma família italiana que parte deles ficaram em São Paulo, partes estão no Rio Grande do Sul, muito conhecidos, pessoas que lá têm empresas, supermercados, indústria madeireira, então, é um nome muito conhecido, eu diria que aqui em São Paulo e lá no Sul.
Pergunta:
Qual que é o nome? Dias?
Resposta:
Rorato, da parte da minha mãe, Rorato. Meu pai, ele tinha seis irmãos, família Dias, Dias é um nome meio comum, mas o Rorato, tanto é que eu tenho uma das filhas que eu fiz questão de colocar o sobrenome de Rorato, e ela fala: ‘Aí pai, que legal! ', e tal. E, quando ela ficou sabendo da família Rorato, ela falou: ‘Aí pai, que legal' tal, no início ela tinha que falar o nome muito comprido, Luciana Loyola Rorato Dias, mas ela fala: ‘Pai, que legal viu! '. Então é, realmente, lá no Sul eles se deram muito bem, então foi.
Pergunta:
E vieram os 13 irmãos da sua mãe?
Resposta:
Os 13 vieram para cá, depois alguns retornaram para o interior, né? Acabaram ficando lá mesmo, onde morava lá o meu avô, que é região lá, a gente falava muito Alta Paulista, que compreendia Bauru, Duartina, Garça, Gália, essa região, a gente ainda tem alguns, ainda moram em Duartina, outros foram para Jaú [5'], então agora em Jaú a gente tem terceira e quarta geração já de primos lá, então, Jaú, Duartina, espalhados por aí. Um dos Roratos, um primo, resolveu ir para o Sul ficar com os Roratos de lá [risos].
Pergunta:
E quais são as maiores lembranças, assim, dessa família unida? Uma família tão grande, morando tão próximos.
Resposta:
Olha, é interessante, porque na Vila Carioca existia lá uma indústria automobilística, que era a indústria era chamada VEMAG, Veículos e Máquinas Agrícolas, meu pai, meus tios, tios assim, que casaram com os irmãos da minha mãe ou com as irmãs da minha mãe, parte deles trabalhavam nessa indústria automobilística, que fabricava aquele carro Vemaguet e tal. E foi, construíram uma igreja na Vila Carioca, que é chamada hoje Igreja de Santo Antônio, e eu lembro que eu era pequeninho e um tio era carpinteiro ajudou a fazer os bancos, o outro era pedreiro subiu não sei o que, então eu me lembro muito bem dessa época. E, naquela época, a gente tinha os coroinhas de igreja, o meu irmão foi um dos primeiros lá, então, quer dizer, são coisas que a gente lembra porque morávamos muito próximos. Eu morava a um quarteirão da igreja, então eu era (...), eu ia muito, quase que todo dia, então o que a gente lembra é isso. Nós crescemos naquela igreja, depois aí fomos ficando jovens, aí surgiram os grupos de jovens nas igrejas, então a gente sempre juntos, hoje a gente ainda quando tem uma festa ou algum evento de família, que a gente se reúne, é gostoso que você fica contando aquelas histórias e tal, é muito legal. Então são coisas que a gente lembra, mas assim, em questão de família, né? Aí chegou um período em que os nossos pais precisavam colocar a gente para fazer alguma coisa, estudar, então um dos tios com que tinha uma formação melhor conversou com cada pai, tal, cada mãe, e nós somos, nós éramos um grupo de quase que oito primos todas as manhãs indo para a escola SENAI lá no Ipiranga, então é uma coisa também que a gente lembra, saíamos da Vila Carioca, nós juntávamos e íamos para o SENAI fazer cada um dentro da sua especialização lá. Então são coisas, assim, que é bacana, eu fico triste quando eu vejo: ‘Quanto irmãos você tem? ', ‘Ah, só tenho um' ou ‘Não tenho nenhum'. Então a gente fala: ‘Poxa! Mas é tão legal' você tem os primos e primas, e as gerações, meu irmão mais velho dá de uma geração, depois vem a gente, depois outros, é muito legal isso.
Pergunta:
E vocês, especificamente, tinham quantos irmãos?
Resposta:
Eu tenho quatro irmãos, minha mãe quatro irmãos, um falecido já!
Pergunta:
Então cinco filhos?
Resposta:
Quatro, quatro filhos. Na verdade, cinco, porque um logo que nasceu ele faleceu, então não teve uma semana de vida, ele faleceu. Então eu tenho um irmão mais velho, eu sou o segundo, um terceiro irmão que faleceu recentemente, e uma irmã. Então somos quatro filhos do Seu Jorge e da Dona Iracema.
Pergunta:
E como eles eram? O Seu Jorge e a Dona Iracema.
Resposta:
Olha, é interessante, né? A gente fala assim, na simplicidade deles, de terem vindo do interior e tal. O meu pai, ele era uma pessoa é (...), o que eles gostavam do meu pai! O meu avô, o pai da minha mãe, falava que ele tinha, ele gostava, ele falava assim: ‘Eu gosto mais do seu pai do que, às vezes, de filhos que eu tenho, pelo carinho, pelo tratamento que o seu pai tem'. Na Vila Carioca, nós tínhamos duas escolas na rua em que eu morava, mas não tinha um garoto ou criança que passasse: ‘Seu Jorge! Seu Jorge! O senhor está bem? ', e o meu pai era muito brincalhão, ele gostava de dar apelido para todo mundo, era incrível, ele olhava, ele já arrumava um apelido e aquilo era gostoso, ele era muito animado. Eu digo assim, que o meu pai e a minha mãe faleceram muito cedo, meu pai morreu com 55 e a minha mãe com 51 anos. Então a gente fala assim: ‘Poxa vida! Gostavam tanto de crianças e não tiveram a oportunidade de conhecer um neto', conheceram um, mas assim, ele nasceu, meu irmão mais velho foi para Minas Gerais, para o Rio de Janeiro [10'], então, mas logo em seguida meu pai faleceu, cinco anos depois minha mãe. Mas o que a gente vê deles, a simplicidade deles, como essa quantidade de irmãos, a minha mãe ela gostava muito de fazer doces, guloseimas, tudo que você possa imaginar de bom, minha casa de domingo era, parecia que era o encontro de primos, tios, todo mundo ia lá: ‘O que que tem hoje? O que que tem hoje? '. E a nossa casa era grande, tinha um quintal muito grande, então comportava todo mundo lá, mas era mesmo, era assim. E era gostoso em final de ano que a gente fala, existia o hábito de você ir na casa de um, juntava, ia à casa do outro, e nunca acabava, porque 13, 14 irmãos, e mais um que já nasceu o filho, era muito legal. Então são, assim, recordações que a gente tem boas, né? Mas eu sinto, hoje eu sou um professor, eu sinto que quando eu, eu falava: ‘Eu vou ensinar a minha mãe a ler', minha mãe lia, escrevia, mas do jeito que ela entendia, por quê? Porque lá atrás a mulher não tinha oportunidade de estudar, quando era no interior, eram os homens que iam estudar, e as mulheres à noite ficavam em casa, não podiam sair. Minha mãe era muito curiosa, então ela ia à mesa onde meus tios estavam estudando e ficava observando, então ela lia muito bem, escrevia do jeito que ela entendia, mas eu falava assim: ‘Eu vou ensinar minha mãe, ainda, a ler', mas não tive oportunidade. Mas eu tenho certeza que, pelo que ela sabia, olha, era muito inteligente.
Pergunta:
E ela, como era a relação dela de incentivar vocês ao estudo?
Resposta:
A minha mãe pegava mais no pé do que o meu pai, o meu pai, para ele estava bom, agora ele era assim, ele só falava: ‘Tem que estudar! ', o que, o que que a gente iria fazer, não, porque ele não tinha, talvez, uma orientação de falar: ‘Vai ser isso, vai ser aquilo'. E a minha mãe não, a minha mãe acompanhava a gente à escola, ela sempre dizia: ‘Pensa bem naquilo que você quer fazer, se dedique aquilo que você quer fazer'. Quando a gente foi para a escola SENAI, fui eu e o meu irmão mais novo, para ela foi alegria, que agora ela estava vendo que os filhos sairiam da escola SENAI com uma formação, poderiam sair dali e ir trabalhar. O meu irmão mais velho, ele foi trabalhar com 11 anos de idade, 11 anos naquela época poderia, podia trabalhar e ele foi com 11 anos de idade, e a gente também, mesmo na escola SENAI, em período de férias a gente arrumava alguma coisa para fazer para poder ganhar um dinheirinho e gastar no SENAI.
Pergunta:
Você começou a trabalhar com quantos anos?
Resposta:
Eu comecei, sem registro, sem nada, 13, 14 anos eu já trabalhava, eu saía da minha casa na Vila Carioca, eu ia até o Ipiranga a pé, trabalhavam em uma empresa que fazia (...), trabalhava com doces e brinquedos, então era um doce e um brinquedinho que ia junto. O que que eu fazia? Eu contava, botava em um saco e ia junto com o dono da empresa entregar nos lugares, e ali eu fiquei um tempo. E ali, quando veio a oportunidade de ir para o SENAI, aí eu tive que abandonar mesmo, aí não teve jeito, mas 14 anos eu já sabia o que era trabalho, sim, 14 anos já.
Pergunta:
No SENAI você entrou com quantos anos?
Resposta:
No SENAI eu, nós ficamos acho que um ano e meio no SENAI, eu entrei com a idade de (...), eu acho que por volta dos meus 15, 16 anos, mais ou menos, porque quando eu terminei o SENAI eu tinha (...), já tinha feito 18 anos e era um período muito ruim para o homem, porque nós tínhamos a chamada, o protocolo da carteira de reservista. Enquanto você não tivesse a reservista definitiva, nenhuma empresa pegava, porque sabia que a qualquer momento você poderia ser chamado para servir o exército. Eu não servi o exército, então você fica naquele excesso de contingente, mas um ano você não tem, não pega o documento, e nenhuma empresa pega você para trabalhar. E eu, eu dei muita sorte, porque eu precis (...), queria trabalhar, terminou o SENAI o que que eu fiz? Eu, o meu pai me orientou e falou: ‘Você vai fazer alguma coisa, até que surja e tal'. Na década de 1970 surgiram os lava-rápidos, que lavavam carros e tal, e meu pai tinha um amigo que tinha um e ele falou: ‘Por que que você não vai lá? Vai lá, começa lá, é um dinheirinho que você vai ganhando até sair o exército' [15']. E eu falo assim, eu sempre conto essa história porque o lava-rápido é aquele lugar onde a gente leva o carro para lavar, tem aquele que lava, tem aquele que enxuga, o que limpa o vidro, o que faz isso, o que faz aquilo, e o meu pai, ele por ter trabalhado em uma indústria automobilística, meu pai gostava de carro e ele sempre trazia o carro de alguém para limpar, para arrumar, para polir em casa, e eu ajudava. E nesse lava-rápido o que que eu fazia? Eu, eu, eu [gaguejada do entrevistado], eu via um risco no carro, eu via alguma coisa, enquanto o pessoal passa aquele pano e já senta, eu não, eu ia lá, uma estopa, alguma coisinha, e eu fiquei quase que um ano nesse lava-rápido. Mas um dia chegou um senhor oriental, me chamou do lado, falou: ‘Por que que você não senta também como os outros lá? Para trabalhar', eu falei: ‘Ah, é que eu gosto de deixar o carro limpinho', ele falou: ‘Mas você precisa ter uma profissão para você! ', eu falei: ‘Eu tenho, eu tenho uma profissão e eu preciso, quando eu pegar minha reservista, aí sim, eu estudei SENAI', ele falou: ‘Vou te dar um cartão', era um sexta-feira isso, ele falou: ‘Amanhã, sábado, eu queria que você fosse nesse lugar, vai conversar comigo lá, amanhã'. Era pertinho também e aí eu fui, cheguei lá era uma empresa, metalúrgica, ele era o dono, olha que legal, aí ele [pausa do entrevistado, que está visivelmente emocionado], aí ele falou: ‘Ó, eu sou o dono da empresa, e eu vi você trabalhando lá, você tem um diferencial, a gente vê que você gosta de fazer aquilo, não está ali só e acabou, e pronto', ele falou: ‘Eu gostei do seu jeito, sempre levo o carro lá e vejo você sempre fazendo isso, como quem, atenção àquilo lá', ele falou: ‘Então, eu vou dar um teste para você hoje, se você passar eu vou te contratar, eu não tenho problema não, de te registrar ou não, eu quero te dar uma oportunidade'. E aquilo foi em um sábado, eu, chegou na hora do almoço, ele dava um valezinho, a gente ia em um restaurante que tinha do lado, pequenininho, almoçava, quando foi quatro horas da tarde ele me chamou e falou assim: ‘Você gostou da empresa? ', eu falei: ‘Poxa, eu gostei! Eu queria saber do senhor se o teste foi bom? ', ele falou: ‘Ó, na verdade, não foi um teste, eu dei uma quantidade de peças para você produzir e pelas peças eu olhei. Você produziu aquilo que eu queria. Aqui tem um envelope para você! [Gesto do entrevistado imitando a entrega do envelope]'. Eu falei: ‘Os documentos que eu preciso? ', ele falou: ‘Não, abre! '. Tinha um valor quatro vezes maior do que aquilo que eu ganharia trabalhando lá o dia todo [entrevistado emocionado novamente], então ele falou: ‘Pode trazer documento, que você está empregado aqui na empresa'. Então é aquilo que eu falo para os alunos, todo mundo é igual, todo mundo faz a mesma coisa, mas se tem alguma diferença que você faz, ela é observada, pode ter certeza. Igual, todo mundo está vendo igual, faça, mas com amor, com carinho, faça diferente e com gosto. Então olha que interessante, né? E aí foram oito anos de trabalho nessa empresa, mal falavam o português eles, eu acabei até ficando o funcionário mais velho durante esses oito anos, eles não tinham filhos, eu que acabava levando para algum lugar, para que eles conhecerem e tal, tudo isso. E vocês sabem que orientam têm aquela história, né? Que eles só vão ter confiança em você, quando você mostrar que eles podem ter confiança em você, e eu (...), eles tinham uma confiança muito grande e muito legal. E olha que interessante, aí chegou um dia que ele ficou doente, ele disse: ‘Eu estou fechando a empresa, se vocês quiserem, entre vocês, comprem a empresa, continuem trabalhando', mas a gente não dava para comprar a empresa, muitas máquinas e tal. Ele fechou, acertou tudo com a gente, em três meses eu já estava empregado em uma empresa, essa tinha, mais ou menos, uns 12 funcionários, eu fui para uma empresa de quase dois mil funcionários e o meu chefe era um senhor japonês também. E aí lá eu fiquei 20 anos, nesses 20 anos nessa indústria ali eu deixei a área que eu fiz no SENAI [20'], em 1978 veio uma portaria chamada 3214, que obrigava as empresas a ter um responsável por (...), pela segurança e saúde dentro da empresa, era uma cobrança que se fazia no Brasil naquele período. Então eu fui estudar isso, fui estudar segurança e saúde do trabalho, e no meu segundo ano lá dentro da empresa, né? Em 1976 eu entrei, em 1978 eu (...), e ali eu fui me enveredando, meu chefe era esse senhor oriental e aí eu fui cuidando da minha área, eu fui cuidando área de treinamento, área, eu, os 20 anos, eu fiz muita coisa lá dentro. Era uma indústria de autopeças, cem por cento nacional, era uma empresa que aquele que gostasse de estudar, eles pagavam uma bolsa integral, eu estudei, foi o período em que eu conheci a escola aqui, que na época a gente falava o IMES, eu vim para cá no ano de 1987 fazer o curso de pós-graduação, que tinha o nome de CEAPOG, pós-graduação em Administração, e aí eu, foi aí que eu conheci a escola. Nesse período eu já, eu, entre (...) [entrevistado limpando o nariz], tinha feito a minha primeira faculdade, foi Matemática, Matemática Plena, depois eu fui para a Senador Fláquer fazer um curso de tecnologia, tecnologia em produção, porque estava ligado na minha área do SENAI. Mas, em 1978, eu fiz uma mudança, fui para essa área, e quando foi o ano de 1981, eu comecei fazer uma relação muito grande com os acidentados no trabalho. Então será que os acidentados (...), mas por que que eles não tomam cuidado? Porque eu era um profissional na área de prevenção de acidentes, me perguntava, o que que é que acontece? Aí, por ter amigos fazendo psicologia, serviço social, eu fui mais quatro anos para a faculdade de serviço social, fui fazer serviço social, que eu queria conhecer o lado, aquele lado que a gente fala, o social, quer dizer, o que é que leva uma pessoa a sofrer um acidente? E o meu primeiro TCC foi Os Acidentes do Trabalho Ocorrem por Atos e Condições Inseguras ou Existe um Fator Psicossocial que Interfere Nessa Relação? E os meus quatro anos, eu me dediquei a esse estudo, quando eu terminei em 1986, a professora que dava aula de Pesquisa e Estatística, porque eu fui tão legal que eu não quis levar dispensa de nenhuma disciplina, eu não pagava faculdade, eu morava perto e então eu disse: ‘Não, eu não quero dispensa de nada, eu quero saber'. Eu fiz lá Matemática, fiz Estatística Voltada à Área de Produção, eu quero saber como que é esse Serviço social. Então me tornei monitor, me tornei, dava aula para primeiro, segundo, terceiro, quatro anos lá de escola, eu tinha um pessoal que eu (...), eu ia de sábado para dar aula. Quando foi o ano de 1986, a professora que era titular da cadeira de Estatística e Pesquisa, ela foi convidada pelo prefeito Tortorello, aqui na época, para assumir um cargo dentro, e aí ela fez uma indicação para o diretor, ele falou: ‘E agora? ', ela falou: ‘Agora você tem um aluno que está se formando, que tanto ele é da área de exatas quanto ele é um assistente social'. Isso, então, isso foi finalzinho de 1986, 1987 eu já estava dando aula e eu vim para cá. Eu precisava fazer uma especialização, e aí eu vim junto com o chefe de recursos humanos da empresa, que ele queria fazer também, no início ele abandonou, ele, por tempo, uma série de coisas, ele foi, mas eu fui até o final, fiz o curso. E é tão gostoso que, poxa, eu morava na Vila Carioca, era tão pertinho, tal, vinha para cá, e eu falei: ‘Vou dar aula um dia nessa escola! ' [Entrevistado visivelmente emocionado]. Bom, lá nessa escola de 1986, quando, de 1987 [se autocorrigindo], quando foi no ano de 2000 o professor Bife, que dá aula aqui, dava aula lá também, ele entrou depois, a gente se conheceu, aí um dia ele falou: ‘Poxa, você não quer ir? Estão precisando de um professor de Estatística'. E aí na [25'], olha que interessante, no ano de 1980 e, 1996 [se autocorrigindo], essa empresa onde eu trabalhava, ela foi vendida para uma outra indústria de autopeças, e eu pedi para sair, fiz um acordo com eles, eu saí, tal, eu queria só trabalhar com consultoria, e quando foi no ano de 2000, na manhã de um dia lá do início de 2000, eu fui para um laboratório dar um treinamento, chego lá, encontro um amigo engenheiro, falou: ‘Estou precisando de alguém da sua área aqui, por meio período, das seis [da manhã] às duas [da tarde], para trabalhar durante seis meses, que eu tenho uma pessoa que trabalha na área, mas está doente, e eu preciso', eu falei: ‘Tá bom, eu moro pertinho', isso era no Tatuapé, do Ipi (...), da Vila Carioca lá no Tatuapé. E a noite lá, eu recebi o convite para vir aqui, então, no mesmo dia, eu fui para um laboratório e à noite eu venho para escola. Ano seguinte eu prestei o concurso e estou aqui desde 2000, então contando desde 2000, né? Aí ainda na escola eu fiz, o meu mestrado foi aqui também, fiz o mestrado aqui. Hoje, além de dar aula, eu sou o gestor do curso de Tecnologia, então é [entrevistado com expressão emotiva], eu digo assim, que a escola para mim foi muita coisa, né? Conhecer a escola, estudar aqui, falar que um dia eu iria trabalhar aqui. E eu falo assim, que eu faço muitas coisas aqui, por nove anos eu sou o presidente da CIPA da universidade, é um cargo de confiança, por quê? Porque eles sabiam que eu sou um profissional dessa área e eu sempre me preocupei com a questão de prevenção de acidentes dentro da escola. E, durante esse período, sempre aí atuando com os funcionários, a gente sempre procurando fazer o melhor possível para prevenir acidentes dentro da escola, então as coisas vão acontecendo, mas por que talvez comigo e não com outro? Sim, com os outros também acontece, mas eu falo que são aquelas oportunidades que a gente tem. Eu falo que a escola, a oportunidade, ela é igual para todo mundo, então eu, talvez, soube abraçar essas oportunidades e estou aqui até hoje, e continuando aí firme, forte aí, e chorão [risos].
Operadora de Câmera:
Aceita uma água?
Pergunta:
É, quer uma aguinha? [Risos].
Resposta:
Não, está legal, vamos lá, vamos lá.
Pergunta:
Olha, professor, eu queria voltar um pouquinho só para eu entender [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Então vamos lá.
Pergunta:
Mais especificamente, de quais escolas você está dizendo.
Resposta:
Tá, [entrevistado parando de limpar o rosto]. Quando eu comecei você fala?
Pergunta:
Hã?
Resposta:
Quando eu comecei aqui?
Pergunta:
É, isso, não, até antes mesmo. A graduação, a primeira graduação.
Resposta:
Ata, primeira graduação?
Pergunta:
É.
Resposta:
Foi Matemática Plena na (...), na verdade, o nome era Seminário Paulopolitano, que hoje, depois, passou a ser FAI, Faculdades Associadas do Ipiranga, e hoje parece que é UNIFAI. Então minha vida sempre foi Ipiranga ali, Vila Carioca, ali eu fiz o curso de Matemática. Do curso de Matemática eu, então eu estudava à noite, durante o dia eu trabalhava naquela primeira empresa que eu falei. Aí, depois quando fechou, eu fui para outra empresa, ali eu já estava fazendo o curso de Tecnologia em Processos de Produção, aí quando (...), então foi a minha segunda escola.
Pergunta:
Aonde?
Resposta:
Na Senador Fláquer, Senador Fláquer. Aí quando terminou, eu já estava dentro dessa empresa, eu fiz um curso técnico em Segurança e Saúde Ocupacional e, dentro dessa empresa, eu passei a ter essa atividade. Aí o curso de Serviço Social veio por estar nessa empresa e querer fazer um curso para me ajudar no conhecimento das causas, a questão do social, o que leva as pessoas, às vezes, a sofrer um acidente? Questão do comportamento adotado pelo trabalhador, tal. E o meu [interrupção da entrevistadora].
Pergunta:
O curso desse Serviço Social foi em qual instituição?
Resposta:
Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul, que era na Visconde, tinha uma com a Paraíso. Hoje, ela se encontra próxima da estação de São Caetano. Então ali eu fiquei do ano de 1983, até o ano de 2002, mesmo vindo para cá em 2000, eu continuei até o ano de 2002, aí eu pedi licença [30'], porque eu já estava com o meu tempo tomado aqui, tanto é que eu sou registrado ainda na escola lá, tenho licença ainda lá. Mas foi muito legal ter conhecido a escola, fui coordenador por três períodos também lá, porque lá o período para ser coordenador, diferente do nosso, que a gente muda quando muda a gestão, muda prefeito, lá era por dois anos, você podia ficar mais dois anos sem retornar, mas durante um período de três vezes eu fui coordenador de curso. E ali eu fiz projetos, trabalhei em campanhas sociais, tal, dentro da universidade, da escola mesmo, da Faculdade Paulista.
Pergunta:
A gente apresentou o trabalho dos 50 anos da USCS em um seminário e tinha um grupo dessa faculdade. E eu passo ali sempre, na frente daquela faculdade, e me chama muito atenção que é uma faculdade muita específica, de cursos muito específicos.
Resposta:
Só, só Serviço Social.
Pergunta:
E, mas assim, sempre passava na frente, mas não conhecia muito. E aí quando conversei com essas pessoas você vê que é um curso muito antigo.
Resposta:
Muito antigo, a escola.
Pergunta:
É uma escola bem antiga.
Resposta:
Bem antiga.
Pergunta:
Tem, assim, uma concentração da área muito forte!
Resposta:
É, essa escola é (...), era única na região, era a única. Era São Paulo, Barra Funda, que era lá a Faculdade Paulista matriz, a Faculdade Paulista de São Caetano do Sul [fazendo gesto que indica outra localidade], paralelo nós tínhamos a PUC, nós tínhamos umas ou outras. Hoje, a gente tem a FAMA, em Mauá, então já tem outras escolas já (...), mas era a única que se concentrava em São Caetano. As salas de aula, elas comportavam 120 alunos, eu me lembro que na turma que eu entrei, nós éramos em cinco homens e 115 mulheres [entrevistado limpa o nariz]. No primeiro ano, dois desistiram, no segundo, mais dois, eu fui até o final, era o único homem em sala de aula. E eu falo assim, que é tão legal que você não podia ser malandro, nem cafajeste, não podia ser, porque na verdade eu era o único homem, então eu dizia assim, eu tinha um bom trabalho naquela época, eu tinha o meu carrinho, então era assim: ‘Moacir, furou o pneu do meu carro! ', era eu que ia, ‘Moacir, não tinha o dinheiro para pegar o trem! ', eu [gesto do entrevistado, imitando a entrega de dinheiro], ‘Moacir, você leva a gente para a estação? Que está chovendo', eu tinha um fusca, um fusquinha, eu cheguei a levar oito dentro do carro, porque o pessoal ia para a estação, de lá eu ia para a Vila Carioca. Então assim, marcou muito também a escola, conheci grandes pessoas lá, conheci Paulo Freire, conheci Luiza Erundina.
Pergunta:
Conheceu o Paulo Freire!?
Resposta:
Conheci o Paulo Freire lá. Tem dois (...), tem uma professora aqui que ela foi minha aluna lá na Faculdade Paulista, ela é professora de Psicologia aqui, eu dei aula a ela lá na faculdade. Conheci Paulo Freire, conheci Luiza Erundina, conheci muitas pessoas que iam até essa faculdade para fazer palestras, tal, muitos (...), muitas pessoas, assim, conhecidas. Então, Paulo Freire foi assim, um (...), esses dias eu até postei no Face, eu achei uma foto eu, a Erundina e o diretor da escola, falei: Ó, gente! Olha eu aí com a Luiza Erundina'. Então era uma faculdade de serviço social, PT naquela época no auge, tudo, então era uma coisa muito legal que a gente tinha lá, conheci muita gente importante lá dentro, lá.
Pergunta:
Como foi esse encontro com o Paulo Freire? Me chamou muito a atenção [risos].
Resposta:
Então, o Paulo Freire na verdade [interrupção da entrevistadora].
Pergunta:
Isso foi na época de aluno ou na época de professor?
Resposta:
Na época de aluno, na época de aluno. Então o Paulo Freire, ele foi falar um pouco sobre a questão da, do método de ensinar, né? Do Paulo Freire, que era assim, coisa maravilhosa, que era um método que não tinha como não aprender. E olha, a palestra começou, acho que por volta de 7:30 era quase 11 horas e a gente ainda na escola, enchendo o Paulo Freire de perguntas e perguntas. E a gente queria saber mais, e mais, e mais, e mais. Então são coisas que marcam, na escola lá foi super legal. E é interessante, né? Quando acabou o curso, na formatura o único homem, vocês imaginem só toda festa que foi, muito legal. Mas era uma coisa legal, assim: ‘Moacir a gente precisa de você, você leva a gente? ', ‘Leva'. Eu fui até pai, sem querer, porque a gente tinha uma colega que ela era (...), foi mãe solteira [35'], e aí era muito amiga da gente, e falou: ‘Ó, nasceu o filho de, da fulana, da nossa amiga'. Eu cheguei no hospital, o pessoal: ‘Parabéns! É um homem viu, parabéns! ', eu falei: ‘Mas eu não sou o pai'. Então têm coisas engraçadas que a gente conta, de triste eu digo que não, porque eu não podia reclamar, eu não pagava escola, então não tinha aquele problema que eu vi de um que não podia, um que estava desistindo porque não podia pagar. Nós tínhamos um carteiro que começou com a gente, desistiu, porque não tinha dinheiro para concluir o curso. Então, assim, são histórias que a gente guarda, então eu nunca reclamei, tanto é que foi gostoso o fato de, poderia ser dispensado de várias disciplinas, não, eu falei: ‘Eu quero fazer tudo que eu tenho direito'. E quando terminou a escola, que foi no ano de 1986, no ano de 1987 eu fui morar sozinho, meu pai e minha mãe já não estavam vivos, os irmãos casados, e aí foi o momento que eu aproveitei para estudar. Foi tão interessante que eu dava aula, à noite eu fazia pós-graduação, estudei na São Marcos também, fiz um pouco de RH, fiz Matemática, o que mais? E fazia pós-graduação aqui, de Administração. E, de domingo eu ia, domingo eu ia lá, como que era o nome mesmo? Lá na Liberdade, no Anglo-Latino, foram quatro anos fazendo o curso de Matemática Aplicada a Vida, das oito da manhã às quatro da tarde, quatro anos certinho, era um curso que tinha para quem gostava da Matemática e podia ser qualquer pessoa que gostasse de Matemática, era um curso dado por um Matemático muito conhecido hoje. E eu só estudava, eu falo assim: ‘Eu tenho uma carteirinha de estudante profissional', eu nunca parei. Estou me preparando para o ano que vem, para um mestrado em Psicologia Social, que é complemento aí, doutorado, né? Doutorado em Psicologia Social [se autocorrigindo]. Consegui arrumar uma orientadora, é uma professora aqui da casa, conversando com ela, ela falou: ‘Olha, que legal, vamos fazer? ', eu falei: ‘Claro que nós vamos fazer! '. Então é assim, quem gosta de estudar não tem período, não tem tempo, e: ‘Vamos estudar'.
Pergunta:
E esse gosto pela Matemática? Lá na Matemática também, como que era a divisão entre homens e mulheres? Mais [ interrupção do entrevistado].
Resposta:
Não, na Matemática era bem dividido, era bem dividido. E foi um período, e foi um período muito, muito assim, porque vamos imaginar que naquele período a gente estava com aquele, o AI-5. E era uma instituição religiosa lá, que era um Seminário Paulopolitano, era a universidade e o seminário junto. Então aonde tinha algum (...), algum encontro de pessoas para se falar de coisas sociais, as coisas ______, eram muito observadas. Mas eu tinha um pai que me ensinava sempre isso: ‘Foge de rodinha, foge de encrenca, foge disso, foge daquilo'. Mas não era, a gente fala assim, nós íamos para estudar mesmo, estudou cada um ia embora para a sua casa, mas eu falo assim, foi um período que nós andávamos na rua a pé, não tinha problema de ser assaltado. Às vezes encontrava com o exército na rua: ‘E aí? ', ‘Sou estudante', ‘Então vai para a casa direitinho! '. Você não tinha medo de estudar, tanto é que eu estudei, o meu cursinho foi na Rua Augusta, no MED, curso MED, fazia cursinho à noite. E a gente andava, eu ia da Praça da Sé até a praça, até a (...), como é que chama lá? A Augusta, a gente ia a pé, ia um grupo, descia do ônibus pá pá pá pá, a noite vinha, encontrava exército, policia, tudo, a gente não tinha medo. Hoje nem de carro a gente faz aquilo, né? Nem de carro a gente faz, então foi gostoso. A Matemática foi por quê? Porque quando eu estava fazendo cursinho, eu trabalhava naquela empresa que eu falei, teve um período que eu tive que trabalhar das seis [da manhã] às duas [da tarde], para adiantar um período de trabalho, à tarde então eu fiz, fazia o cursinho, fiz um pouquinho do cursinho à tarde, e depois eu fui para à noite terminar, fiquei quase um ano no cursinho. E o governo, naquele período, ele, não sei se vocês lembram, acho que não, veio o Projeto Minerva, o que que era o Projeto Minerva? As empresas davam um local, o governo dava o televisor e dava o material. Então o funcionário da empresa, ele ficava ali para ter aula de Português, de Matemática, de Ciências, e depois ele fazia aquele exame que habilitava, tal [40']. E eu dava aula de Português, de Matemática e de Ciências, olha que legal, Português, e eu acabei gostando, eu (...), meu sonho era fazer Engenharia, mas aí o ensinar era tão gostoso, porque você via o pessoal debruçado encima da marmita, às vezes dormia, caía a marmita, caía o garfo, mas era assim, era gostoso, eu falei: ‘Não, eu vou fazer Matemática'. E aí eu fui para fazer Matemática mesmo, dei aula em colégio, no período que você tem de estágio, e quando terminou eu já estava (...), eu já estava nessa primeira empresa, na primeira que eu falei lá do lava-rápido lá. E, depois, na outra empresa onde eu fui para fazer, terminar o de Tecnologia. E acabou o de Tecnologia, Serviço Social, vamos lá, vamos emendar, vamos embora! Vamos estudar, não vamos (...).
Pergunta:
Você sempre fez muitas coisas ao mesmo tempo, né?
Resposta:
Sempre! É incrível. E o pessoal fala assim: ‘Aonde é que você arruma tempo? '. E olha que interessante, eu também sou professor da escola da terceira idade, da universidade da terceira idade. Então é tão legal que, mesmo sendo de terça e quinta, então é: ‘Pô, você não podia descansar de terça e quinta? ', ‘Não', eu disse: ‘Segunda eu não tenho aula à tarde, quarta eu não tenho aula à tarde, sexta eu não tenho aula de manhã e tarde'. Então eu já estou, quase que dez anos, aí no curso da terceira idade. Lá eu dou a disciplina de Qualidade de Vida na Terceira Idade, depois eles voltam com Raciocínio Lógico, onde eu faço uma aplicação de jogos, que o que que é legal para eles? O que são os jogos, né? A questão da, que a gente fala, mexer com os neurônios, fugir do Alzheimer, então eles adoram jogos, atividades em que eles venham a pensar, não é uma coisa assim, que fala: ‘Ah, está muito fácil, né? ', algo que faça com que eles raciocinem, por isso que tem o nome de Raciocínio Lógico, e é muito legal, eu gosto.
Pergunta:
Então a sua primeira atuação como professor foi lá no Projeto Minerva?
Resposta:
Foi no Projeto Minerva. Não era nem formado, ainda, estava fazendo o cursinho. Então, no Projeto Minerva, foram as minhas aulas de Português, Matemática e Ciências.
Pergunta:
Você já imaginava que isso ia virar a sua profissão?
Resposta:
É (...), foi, sabe por quê? Porque eu gostei, porque era tão gostoso que quando ocorreu o exame, que eles fizeram o exame e foram aprovados, então eu falei: ‘Poxa vida! Agora eles já têm uma (...), já vão aproveitar e fazer um outro curso, alguma outra coisa'. E eu não (...), eu gostei, mas foi o gostar mesmo, e assim né? Eu falo que dentro da minha área de Segurança e Saúde Ocupacional, que o meu mestrado, ele é em Segurança e Saúde Ocupacional, eu trabalho [interrupção da entrevistada].
Pergunta:
Em qual área?
Resposta:
Então, dentro da Administração, eu (...), existe uma norma chamada 18001, que é OHSAS, né? A OHSAS fala sobre Segurança e Saúde Ocupacional. Então eu não fugi, nunca, da área de Segurança do Trabalho. E o que que eu fui pesquisar? Eu fui pesquisar se, realmente, as empresas que fizeram sua certificação nessa norma, porque quando a gente fala: ‘Sou certificado em Meio Ambiente, sou certificado em Qualidade'. Mas: ‘Sou certificado em Segurança e Saúde Ocupacional', significa que você vai ter que reduzir muito os seus riscos de acidente no ambiente de trabalho, porque você assumiu um compromisso muito grande, você está mais visível, você é certificado. E eu ser certificado, eu tenho que garantir que aquilo que eu tenho, como uma produção ou um trabalho, eu vou realizar, mas eu vou eliminar, se possível, todos os riscos, porque é muito difícil eu falar: ‘Vamos eliminar todos! ', mas dentro do possível eliminar. Quando não, a gente sinaliza, quando não, a gente dá treinamento, quando a gente instruí e o ensinar, porque, na verdade, isso requer treinamento. Você só consegue (...), é o treinar, treinar, treinar [45']. Então eu me vejo sempre no papel do ensino, seja na terceira idade, com os alunos aqui. Hoje, eu dou aula na área da Saúde, eu dou aula em Nutrição, Enfermagem, todos os da área da Saúde, fui convidado para dar aula no primeiro curso agora, que já começou, que é o de Odontologia, eu dou Metodologia, e vou voltar com a primeira turma em Estatística, que também é minha área. E eu só não dou (...), eu só não dei aula aqui, hoje, dentro da escola, para Engenharia, que ainda não dá tempo, e para Medicina. Mas, praticamente, os outros cursos eu já trabalhei quase que em todos aqui. Na área de Comunicação dei aula, de 2000 até 2013, quando houve aquela mudança de Escola de Comunicação, eu fui professor do curso de Publicidade e Propaganda, com a disciplina de Pesquisa de Mercado e Opinião. Foi um período muito legal, logo que eu entrei aqui hein! Vim para dar quatro aulas de Estatística, na primeira semana me chamaram: ‘Você dá aula de Pesquisa? ', ‘Dou! ', conversei com a professora Carminha que hoje é a nossa (...), trabalha na área de pós-graduação. Ela me fez umas perguntas, falou: ‘Legal! ', aí foi de 2000 (...), foi por isso que depois eu tive que deixar e ficar só com a escola aqui, não dava, aí meu tempo foi reduzindo aqui e tive que deixar lá. Mas sou registrado ainda lá, eu estou de licença lá.
Pergunta:
E nas empresas que você chegou a atuar, você já trabalhava com Segurança do Trabalho? Depois de um tempo.
Resposta:
A primeira que eu trabalhei foi com a profissão do SENAI, na área de Mecânica. Nesta segunda empresa eu trabalhei como, entrei como, na área de Mecânica e, depois, passei para a área de Segurança e Saúde Ocupacional. Em 1996 eu deixei essa empresa, que ela foi vendida. Fiquei quatro anos então só dando consultoria, rodei o Brasil todo, dando treinamento. No ano de 2000 entrei em uma indústria farmacêutica, americana, e lá eu fiquei por um período de oito anos. Começou no Tatuapé, depois ela mudou para Itapevi, olha só, levantar as quatro, cinco da manhã, a minha sorte é que o fretado passava na Avenida Kennedy, eu moro (...), mas quase no finalzinho da rua que eu moro, dá pra Kennedy, e ali passava o fretado, no período que eu mudei para lá. Fretado ia embora, vinha dormindo no ônibus, e quantas vezes eu não vim direto, porque era um ônibus que fazia o ABC, então ele fazia Santo André, São Caetano, pegava um pessoal em São Paulo e ia embora direto. Então, quer dizer, quando eu não conseguia chegar na minha casa, eu vinha direto, ele passava na porta da escola, eu já descia e falava: ‘Estou na escola'. Porque você pegar Castelo Branco, Marginal Pinheiros, Bandeirantes, aquela que é, como é que chama? Tancredo Neves, e pegar aquele pedacinho que a gente sabe, de início de Goiás ali, não é fácil, não era todo dia que a gente chegava legal. Eu procurava deixar as minhas aulas, as duas últimas, quando não dava era corrida, mas foi legal, e no laboratório também, no laboratório eu só trabalhei com a área de Segurança e Saúde Ocupacional. Foi, na verdade, eu falo que o laboratório eu mais aprendi do que eu trabalhei, laboratório ele existe (...), é uma exigência muito grande que no seu período anual, você tinha (...), você tenha X cursos feitos, e tinha que fazer, não tinha essa, mas foi bom, porque isso para o currículo é muito legal, tanto é que quando eu saí, no ano de 2007, acho que foi 2007, 2008, as empresas que dão treinamento na área de Segurança e Saúde Ocupacional ligavam para a minha casa: ‘Estou precisando de você para dar um treinamento', ‘Aonde? ', ‘É uma indústria farmacêutica e só quer se o profissional tiver (...), for' [pensativo], como é que fala? ‘Se ele tiver uma certificação na 18 mil'. E eu tinha feito o curso de gestão lá no laboratório, aquilo me ajudou muito. Então eu ia para as empresas: ‘Ah, você fez o curso para auditor da 18001? ', ‘Sim! ', ‘Então legal'. Então por quê? Porque eram empresas certificadas e que não queriam só um simples curso, um treinamento, você tinha que ser (...), ter algo a mais, porque você era, a empresa era certificada, então ela não queria mais aquele feijão com arroz, ela queria algo que, realmente, mostrasse: ‘Ó, veio aqui'. E essas empresas, que são certificadas [50'], têm uma exigência muito grande também do instrutor que vai dar o treinamento, você tem que levar todos os documentos provando que você tem esse curso, que você é auditor do curso, que você já tem uma bagagem dentro daquele treinamento, porque quando eles são auditados, eles vão perguntar: ‘Quem deu o treinamento? '. Então não pode ser uma pessoa que não tenha, foi muito legal, está vendo, a gente fala assim: ‘Pô, estudou demais! ', não, nunca foi demais nada que eu fiz. Tudo que eu fiz, eu usei, tudo! Não tem essa: ‘Ah, eu fiz dez cursos, aquele eu nunca usei, esse daqui eu nunca usei'. Tudo o que eu fiz eu uso, não tem essa de: ‘Ah, você fez, e aí? ', não, tudo que eu fiz eu usei, uso, né?
Pergunta:
Explica para a gente, um pouquinho, sobre esse laboratório que você falou?
Resposta:
Laboratório Farmacêutico? O laboratório, eu entrei lá como um técnico em Segurança e Saúde Ocupacional, o meu trabalho era acompanhar desde o início de preparação do material, que a gente fala assim: ‘Nós vamos produzir X medicamentos'. Para produzir aquele medicamento você tem uma série de produtos, que vão compor aquele medicamento, então eu já ia para esse local ver como é que estava a preparação, por quê? Alguns são sólidos, outros é pó, né? Que são pós, e quem é que vai manipular? Se ele tinha os equipamentos, se aquilo era (...), dispersava no ambiente. Então começava dali, dali todas passagens, desde que a gente fala, da separação do material, da produção do medicamento, ou sólido ou líquido, de (...), o envase, colocar dentro do cartuchinho, que a gente fala, nas máquinas, equipamentos, chegar no almoxarifado já na caixa, tudo direitinho, até ir para a distribuidora. Então foram sete anos ali, assim, de trabalho, foi muito legal, tudo que eu pude aprender, porque a primeira empresa que eu trabalhei era uma empresa metalúrgica, então já muda muito, de graxa para remédio. Então, era assim, e em relação ao número de acidentes, nossa! Uma redução muito grande, na verdade, eu estranhei, porque onde eu trabalhava, às vezes eu fazia um ou dois relatórios, às vezes por dia, ou dois na semana, e durante os sete anos acho que eu fiz um registro de acidente. Então é estranho, né? Porque você fala: ‘Caramba! Mas o que é que muda? ', é a empresa, é o treinamento, é exigência, é aquilo que a empresa dá para o funcionário para evitar um acidente, e ninguém quer acidente. E quando a gente vê que tem uma empresa que, realmente, se propõe a treinar e dar treinamento, não tem como você falar, bom, os riscos sempre estão presentes, isso a gente não pode dizer que não, mas quando você é treinado para o conhecimento daquele risco, diminui bastante.
Pergunta:
Qual foi o maior desafio dessa área que você já enfrentou?
Resposta:
De Segurança Ocupacional?
Pergunta:
Ou algum ______.
Resposta:
Eu acho que foi o meu mestrado, acho que foi o meu mestrado.
Pergunta:
Teve uma aplicação prática?
Resposta:
Teve também, dentro de uma indústria automobilística. Foi lá que eu fiz o meu (...), eu queria, eu queria falar sobre empresas que são certificadas. Será que realmente, as empresas que são certificadas, reduzem mesmo, reduziu mesmo o número de acidentes? Ou é só fantasia para dizer, tal. Isso era a minha pergunta, foram certificados, tem todo um trabalho para levantamento de riscos, de necessidades, mas será que realmente aquilo ocorre? E aí eu fui para dentro de duas grandes automobilísticas e, na verdade, isso ocorre mesmo. Existe uma redução muito grande na questão dos acidentes, por quê? Porque, na verdade, quando você tem acidentes, todo mundo sabe que não é legal você saber que dentro daquela empresa teve um acidente, então há um zelo por não ter o acidente, além do funcionário, mas também pelo nome da empresa. Então não adianta falar que não, mas se eu zelo pelos funcionários, eu já estou zelando pela empresa e pelos funcionários. E, realmente acontece, o que deu para ver foi que empresas certificadas procuram, realmente, cumprir aquele objetivo, que é o de prevenção de acidentes e doenças do trabalho [55']. O desafio que eu falo foi no mestrado, porque mestrado não é fácil, a gente fala que é dedicação total, e nós pegamos um período, eu e um amigo que fazia também o mestrado, nós estávamos dentro da mesma indústria, mestrados diferentes, mas a empresa entrou em greve e quando entra em grave você tem que parar. E a gente estava com o tempo já quase terminando, e aí a gente conseguiu conversar, voltamos, fechamos o trabalho em uma semana, e aí a pesquisa, o relatório final, a conclusão. Deu certo, graças a Deus deu certinho, mas foi um sufoco. É como você disse, enfrentar grandes problemas, eu acho que, eu acho que vai muito do profissional: ‘Você gosta do trabalho? ', ‘Gosto! '. Então eu acho que quando você gosta, ele flui muito legal, é diferente de falar assim: ‘Eu estou fazendo esse trabalho porque ele paga bem', então eu já estou vendo questão do dinheiro aí. E olha só, por que que eu fui fazer Serviço Social? Por que que eu quero fazer Psicologia Social? Eu ainda não estou satisfeito com tudo que eu vejo, eu acho que, ainda, tem muita coisa para se falar de acidentados, tem muita coisa ainda. Acho que é uma coisa, assim, que tecnologia está aí, máquinas trabalhando para o homem, o homem, hoje, fazendo outras coisas, as mudanças que ocorrem, então tudo isso ainda tem que se pensar. O homem ainda sai de casa, ele deixa uma série de problemas, o homem adota comportamentos diferentes no ambiente de trabalho, esses comportamentos nem sempre são comportamentos seguros. Essa é a minha linha de trabalho, questão do comportamento não tem que estar ligada com Psicologia, com Serviço Social, não foge. É tão gostoso que eu dou aula na Psicologia também, então eu (...), eles perguntam: ‘Professor, você [interrupção da pergunta]', eu dou aula de Estatística, ‘Professor, o que que tem haver você com a Psicologia? ', eu falei: ‘Eu sou assistente social, dentro do curso de Serviço Social você tem dois anos de Psicologia'. Aí eu conto um pouco da minha história, que foi conhecer um pouco melhor a questão do acidentado no trabalho, que é uma coisa que mexe muito com aquele que gosta do trabalho, por quê? Porque não é legal ver alguém acidentado, eu vi muitos acidentados no meu período de trabalho, nas outras empresas em que eu trabalhei, não no laboratório, laboratório eu não tinha nem para analisar acidente, graças a Deus. Mas trabalhei em empresa em que nós tínhamos um grande número de acidentes, e eu me perguntava: ‘Por quê? Por que isso? Por que isso? Por quê? São orientados, o que que falta? '. Então é, talvez, aquilo que você falou, desafio é buscar, cada vez mais, o que leva uma pessoa a adotar comportamentos diferentes no ambiente de trabalho, que leve à ocorrência de um acidente. Acho que esse é um desafio também.
Pergunta:
E quais, já tem alguma coisa mais estruturada para o outro ano?
Resposta:
Ainda não, não. Porque eu consegui encontrar essa professora, que é da (...), é de outra universidade, ela dá aula aqui, mas o mestr (...), ela dá aula no doutorado em outra universidade, ficamos de conversar, ela pediu que eu preparasse um projeto, ainda tem muita conversa. Eu quero deixar para o ano que vem, por quê? Tem seis meses aí para uma preparação, mas eu quero fazer, eu quero fazer. Eu acho que, não pelo título, porque é (...), é estar inserido em um contexto onde se discute a questão do comportamento. Uma das duas, ou eu ia para o doutorado ou eu ia fazer Psicologia, uma das duas. Então aí eu consegui, eu falei: ‘Que legal! '. Estava desistindo já, não estava mais (...), falei: ‘O que que eu faço agora? ', aí quando ela apareceu, eu falei: ‘Legal, já sei o que eu vou fazer'. A carteirinha de estudante profissional.
Pergunta:
E vai ser legal essa troca com os alunos de Psicologia [interrupção do entrevistado e concomitância de falas].
Resposta:
Vai, vai ser legal! Vai ser muito legal.
Pergunta:
O mestrado você terminou quando?
Resposta:
Aí caramba! Eu acho que tem quatro anos. Três, quatro anos que eu terminei o mestrado [01:00'].
Pergunta:
É uma vida longa de estudos, né? _______.
Resposta:
Eu nunca parei, porque se a gente contar entre os cursos de graduação, têm os cursos também que a tua profissão exige, fiz muitos cursos. Eu tive uma oportunidade, dentro da indústria farmacêutica, que como a nossa foi a segunda empresa de 55 distribuídas em todo, todo Brasil, todo mundo aí. Nós tínhamos 55 unidades, e a nossa foi a segunda a ser certificada, a gente estava quase que já conquistando um time para a gente visitar outros países e certificar a empresa, mas aí eu acabei saindo. A empresa, hoje essa empresa já não tem o mesmo nome de quando eu trabalhei, farmacêutica é muito isso vende, compra, compra, vende. Mas quando eu saí, dois anos depois ela já mudou de nome, mas uma empresa muito boa de trabalhar, muito boa. Fico triste quando eu olho no Facebook, vejo lá o pessoal em uma festa, essa festa junina eles têm, tem festa no final do ano, falo: ‘Aí! ', bate aquela, de falar: ‘Pô, trabalhei aqui'. Mas foram situações que me fizeram sair da empresa, não pela empresa, mais questão familiar, porque meu dia era o dia todo quase que fora de casa, os filhos crescendo, tal.
Pergunta:
E essa parte da família, como foi? De casamento, não sei se você casou, filhos, como foi acompanhando tudo isso?
Resposta:
Eu (...), eu na verdade demorei muito para casar por causa de estudo, né? Eu casei no ano de (...), eu, na verdade, foi eu conheci uma pessoa que tinha uma filha de três anos, no ano de 1991. Aí namoramos, não deu certo, depois voltamos, em 1994, e aí eu fui fazer um trabalho fora, fiquei (...), fiquei, praticamente, 1994 [entrevistado pensativo]. É, eu estava de férias, fui fazer um trabalho, no Sul, e falei, ela morava com a mãe dela, falei: ‘Vai para casa ficar os 20 dias que eu não vou estar lá, precisa alguém pagar a conta, molhar minhas florzinhas', eu tinha meus vasinhos de flor [risos], interessante, eu voltei, nenhuma flor viva, morreu tudo. E aí ela veio para casa, trouxe a minha filha, a filha que desde o primeiro dia já me chamava de pai, com três anos. Ela ficou grávida no ano de 1995, nós (...), ela morava já comigo, aí ela fez toda a separação de divórcio e tal, que o marido, o ex-marido [se autocorrigindo] morava em outro lugar. E aí nasceu a Gabriela em 1996, 1996 Gabriela, 1998 nasceu a Luciana, 2002 nasceu o Samuel, que é dia 24 agora, fez 16 anos. E ia tudo bem, até o ano de 2009, quando houve uma separação e eu fiquei com os filhos, ela mudou para um outro local, e eu fiquei com os filhos. Então, Samuel com seis, Luciana com dez e Gabi com 12, e foram nove anos cuidando deles. Hoje a mãe voltou, voltou (...), voltou ano passado, está em São Caetano também. Gabi casou no começo do ano, me ligou esses dias, está grávida, então legal, mora em Minas Gerais, trabalha lá ela e o marido. A Luciana está comigo, mora comigo. Como a mãe está perto o Samuel fica Moacir, mãe, Moacir, mãe [gesto do entrevistado indicando rotatividade]. Não casei mais, porque foram anos cuidando da garotada e dedicação ao estudo, e não deu tempo. Então é (...), agora a Gabriela já está bem conduzida, Luciana está com 20 anos, está comigo, e Samuel está lá entre mãe e pai, mas vamos lá.
Pergunta:
E como você é como pai, em relação ao estudo? Como, assim [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Olha [interrupção da entrevistadora].
Pergunta:
Você se lembra lá da sua mãe, que pegava no seu pé, como que você [interrupção do entrevistado e concomitância de falas].
Resposta:
Eu pego, eu pego no pé! Eu acho que tem que estudar. A Gabriela, ela estudou aqui, se formou em Design de Modas, aquele curso que teve, tal. A Ana Luiza também estudou aqui, fez Gestão de Recursos Humanos, a Ana Luiza, no ano de 2009, quando houve a separação, ela foi para o Estados Unidos, ela mora lá, saiu daqui ela fez Hotelaria lá, fez uma série de coisas lá, não quer vir mais para o Brasil, quem vai para lá não quer vir embora mesmo [01:05'], está lá. Gabriela foi para Minas, trabalha em uma boa empresa também.
Pergunta:
Em qual cidade ela está?
Resposta:
É Extrema, Minas Gerais. Primeiro foi um casal, falou: ‘Ó, aqui está maravilhoso! Emprego à vontade, casa barata'. Hoje, eles são oito casais em Extrema, em questão de quatro meses, oito casais foram para lá, moram um perto do outro, bom emprego, empresas grandes, aqui o que eles pagariam em uma casa, eles pagam um terço lá do valor de uma casa. Grandes empresas, o marido dela trabalha na DIMEP, aquela Dimas de Melo Pimenta, e a Gabriela na Multilaser, então quer dizer, são empresas grandes, tem convênio, tem uma série de coisas, tal. E assim, diz que tem mais casais que são amigos, que querem ir para lá também. Então que bom se Extrema está crescendo e se deu bem lá, é uma hora e pouco de viagem, não é tão longe. Luciana está comigo, em função dela ter ido com a mãe um período, para o Rio de Janeiro, depois a mãe foi para outro estado, ela ficou lá, voltou, agora ela está comigo. Quer fazer agora Psicologia, então vamos ver se vai, vamos ver. O Samuel, ele é muito centrado no estudo, fez 16 anos agora e está no segundo colegial, quer dizer, vai entrar para o terceiro com 17, vai entrar na faculdade, na universidade, se der tudo certo, com 17 anos. E veio o curso de Ciências Aeronáuticas, que é o que ele queria, ele queria ir para São José dos Campos, ir lá fazer ITA. Aí quando eu falei: ‘Samuel, tem um curso! ', ele falou: ‘Pai, é esse aí! '. Então, que legal, agora vamos (...), tomara que o curso cresça, por quê? Porque aí também você está pertinho, tudo isso e está legal. Mas eu sou, eu cobro muito, eu acho que (...), eu não fui cobrado porque meus pais, eles (...), era só assim: ‘Tem que estudar', mas o que que eu tenho que estudar e o que que eu tenho que fazer? Hoje, eu mostro para eles a necessidade que a gente tem. Do que você faz, a Luciana mesmo, ela senta comigo, ela fala: ‘Pai, que que você acha? ', isso e isso, eu falo: ‘Ó, isso aqui é um pouco difícil, mercado está lotado. Esse daqui não, o mercado está precisando'. Mas nunca naquela de: ‘Você tem que fazer isso aqui, porque eu quero! ', acho que esse tempo já foi, né? Lá atrás. Ou o homem fazia Direito, ou fazia Engenharia, ou fazia Medicina, não tinha, não, eu acho que o que eles escolherem muito bem feito. Depois, cada um vai sentindo a necessidade de falar: ‘Opa, preciso fazer mais um, mais outro', e vamos embora, né?
Pergunta:
E como é ter os filhos estudando aqui na USCS?
Resposta:
É, olha, [gaguejada do entrevistado], dois e a mãe deles também chegou a estudar, mas não deu certo, ela saiu. Eu acho que a escola, eu faço uma diferença muito grande, eu faço uma distinção entre estudante e aluno. Aluno a gente tem um monte, estudante a gente conhece, aquele que realmente se empenha, que estuda, que vem, que te procura: ‘Eu quero aprender'. Eu acho que vai chegar uma hora que o aluno, ele vai falar: ‘Eu preciso ser estudante', porque o mercado está exigindo, não é fácil pagar uma mensalidade, a gente sabe disso. Então eu penso muito nisso, o porquê de eles virem para cá, porque eu (...), eu tenho certeza que eles estão em um bom lugar. Ana Luiza estudou, Gabriela estudou, Samuel vai querer estudar, então quer dizer, estão perto de casa. Nós estamos direto com curso, com os professores, então é, você fala assim: ‘Não, pode ir que é muito legal! ' que você conhece, eu vejo nesse sentido. E outra, eu sou o gestor de curso, o que eu me preocupo com professor, com os alunos, da gente sempre está fazendo o nosso melhor, porque é um atrativo, é uma maneira de falar: ‘Ó, eu estudei em uma escola que foi muito legal! '. Eu, eu falo que no meu Face eu tenho 3200 e poucos amigos, a maioria são estudantes, pessoas que: ‘O professor, que legal você está lá ainda, que bacana! '. Isso é legal, né? Esses dias mesmo a gente fala: ‘Ó, fulano faz aniversário', então você vê no dia lá, manda: ‘Pô professor, que legal! '. Então isso é gostoso, né? De: ‘Você está aí ainda? ', ‘Estou, estou aqui ainda! '.
Pergunta:
Hoje, na gestão, você tem quantos cursos dentro da Escola de Tecnologia?
Resposta:
Cinco cursos. RH, Gestão Comercial, Gestão Empresarial, Marketing e Comercial [01:10']. E o vestibular nosso foi aberto para Gestão da Qualidade, Gestão de Meio Ambiente e Logística. Nós tínhamos esses oito cursos, e aí com a questão da crise, acho que um pouco da crise, porque um curso de tecnologia, ele é voltado para uma pessoa que já está dentro de uma empresa, em que é cobrado dele fazer um curso, e é um curso rápido, de dois anos. Mas a gente está tendo aí, adeptos ao curso, novos, 18, 19 [anos], que querem fazer o curso e depois querem enveredar para uma outra área também. Então legal essa aceitação aí, né? Chegamos aqui, um período, com um grande número de alunos, grande mesmo, e a crise foi legal, não foi boa para ninguém, houve uma redução, mas eu acredito que a gente está melhorando, eu tenho certeza que estamos voltando aí. A escola, ela tem aí um, a gente fala que tem um diferencial, porque é uma escola antiga, veio crescendo, isso ninguém pode dizer que não, centro, um centro, né? Universitário, uma universidade. Hoje a gente tem Medicina, tem Engenharia, tem tantos cursos aí e outros que virão, quer dizer, estamos crescendo. Então isso é legal, né?
Pergunta:
E como você avalia, assim, aquela USCS que era IMES, né? Quando você conheceu.
Resposta:
Era IMES, Instituto Municipal de Ensino Superior.
Pergunta:
E a USCS de agora.
Resposta:
Olha, mudança que eu diria, quando eu vim para cá lá no ano de 1987, eu gostei, pelo modo como (...), pela seriedade, pelos professores, que a gente tinha professor que dava aula aqui e também dava aula em outras universidades. Então, quer dizer, eu acho assim, que foi uma evolução, sair de uma faculdade, se tornar um centro universitário e uma universidade. É tão gostoso falar: ‘Onde você estuda? ', ‘Em uma universidade! ', isso é gostoso. E hoje a gente vê, a gente tem professores formados na USP, professores que dão aula na USP, pessoal de mestrado, de doutorado, então, eu acredito que houve uma evolução, boa, uma evolução boa, que tende a melhorar cada vez mais.
Pergunta:
Em 1987 você entrou aqui como?
Resposta:
Não, em 1987 eu vim fazer o curso de pós-graduação, em Administração.
Pergunta:
CEAPOG.
Resposta:
Que era o CEAPOG.
Pergunta:
Isso. Aí você veio em 1987, você concluiu o curso?
Resposta:
Fiz (...), eu concluí, eu concluí. Nós tínhamos duas modalidades, que era aquele que tinha o que fazia uma prova e aquele que era apenas o presencial ali. Mas era um curso que te dava especialização, então eu certificado de vários módulos, né? De RH, vários (...), eram vários módulos e cada um deles te dava um certificado, mas era o CEAPOG.
Pergunta:
Aí você entrou em 1987 e ficou como aluno até 2000? Ou _______ [concomitância de falas].
Resposta:
Não, não. Não, não, eu fiz 1987, 1988 e encerrei, está bom. Aí eu continuei estudando, então, quer dizer, aí no ano de (...), aí eu já estava dando aula na Faculdade Paulista também, então lá eu fiquei esse período. Aí no ano de 2000 é que eu vim para cá, mas eu falava, eu passava na porta, aí eu falava: ‘Vou dar aula nessa escola aqui, vou dar aula nessa escola! '. E aí veio o convite do professor Bife, eu vim para cá, foi muito legal e estamos aqui até hoje.
Pergunta:
[Situação informal]. Você precisa sair?
Operadora de Câmera:
Não, eu só estava vendo se ela quer revezar.
Pergunta:
[Entrevista retomada]. E como foi essa chegada como professor aqui?
Resposta:
Vamos lá, aí pô! Nem falo, porque eu era, lá (...), a Faculdade Paulista tinha, ela tinha uma sala de cada ano, uma de primeiro, de segundo, tal. Aí eu chego aqui, vejo tudo isso, e aí vou dar aula em um curso de (...), era Administração, acho que, naquela época, era Ênfase em Comércio Exterior. Foi um susto, porque é muito diferente e uma coisa que eu falo, o professor que na época, está aqui ainda, até hoje, o professor Santander, não sei se vocês já ouviram falar dele, eu falei: ‘Professor, eu posso assistir aula na sua sala? ', ele olhou, falou: ‘Pode! '. E ele conta para todo mundo [01:15'], eu assisti seis meses de aula com ele, sabe por quê? Eu queria saber como, qual era a metodologia de um curso de Estatística dentro da escola, porque eu vim de uma outra escola, uma escola que era escola de Serviço Social, e uma escola de Administração eu quis aprender. Eu fiz prova, eu fui em laboratório, eu era um aluno, e aí aquilo me ajudou muito, por quê? Porque eu acabei entendendo como era a metodologia de uma aula, se vocês perguntarem para ele, ele vai dizer. Nós formávamos um trio, eu, ele e o professor Ruiz. Então, tanto é, que quando nós tínhamos, no sábado, revisão antes de prova, não importava se a sala ali comportasse os meus alunos, do Santander, do Ruiz, a metodologia era igualzinha. Então, quer dizer, faltasse um de nós, um podia cobrir, mas por quê? Porque eu fui ver como era o processo de aula, tal. Se um dia vocês conversarem com o professor Santander, fala: ‘Professor, Moacir, quem foi o professor Moacir? '. Eu achei interessante, por quê? Eu falei: ‘Eu preciso saber como que é, eu tenho que entrar no mesmo esquema que eles dão aula para não ser diferente'. E foi muito legal, foi uma coisa assim, de falar: ‘Poxa vida, né? '. Meu (...), minha metodologia de dar aula lá era uma coisa, eu não sei como é aqui, eu preciso aprender e eu vou aprender com quem? Com quem está dando aula. E os alunos perguntavam: ‘Você é aluno? ', ‘Sou, sou'. Eu me fiz passar por aluno durante o período de quase seis meses, e vim assistir aula, fazia a prova dele, tudo que o aluno fazia, eu fazia. Por quê? Porque eu queria saber como que era, ó que legal [pequeno riso].
Pergunta:
E depois disso, como que [interrupção do entrevistado].
Resposta:
Não, aí depois a gente já se integrou bem. E aí, nesse período, eu fui convidado pela Carminha para dar aula em Publicidade e Propaganda, e foi legal, porque o curso de Publicidade e Propaganda eu ficava com o pessoal no segundo semestre, no segundo ano [se autocorrigindo], que aquele período era anual. E no quarto ano, que nós tínhamos as mesas redondas que eles formavam lá, tinha que montar uma empresa, tinha que ter um produto, e eu gosto da parte de pesquisa, tanto é que eu dou aula de metodologia também, né? Então dou aula de Estatística, Metodologia, de Segurança e Saúde Ocupacional que a gente tem em RH, agora não, que eu não posso dar aula à noite, só estou na gestão, mas quando tem a oportunidade, eu que vou lá dar essa aula. Então, quer dizer, à medida que foi